Gêneros didáticos
Existem várias formas de lecionar. Não é a mesma coisa, por exemplo, dar aulas ao longo de um semestre, ao longo de um ano, e proferir palestras de duas horas. Uma aula particular é diferente da entrevista concedida diante de um público de 100, 200 pessoas, ou mais. Ministrar uma oficina requer atitudes específicas, que se mostrarão inadequadas em outras circunstâncias; uma aula a distância possui suas próprias características.
Tais gêneros didáticos vão entrar (ou não) em sintonia com o estilo de cada professor. Um professor expansivo terá mais facilidade na palestra multitudinária, e terá de ser mais intimista quando for contratado para dar aulas particulares. Aquele que, mais introspectivo, se sente como peixe fora d’água num estúdio de TV (e precisa aprender a respirar fora d’água), poderá nadar de braçadas na criação de um livro didático.
Palestra de duas horas, para número superior a 400 pessoas, com direito a telão e PowerPoint, progride bem e conclui-se bem se o palestrante mantém o ritmo, passeia “dentro” do tema, combinando conceitos e exemplos, informações e metáforas, pequenas histórias e rápidas indicações de leitura, chistes e recomendações, ironias e “broncas”, perguntas retóricas e apresentação de músicas. Palestrante é um professor no palco.
Já uma aula particular permite o diálogo, a busca ombro a ombro de enfoques novos, quase em clima de confidência. Neste caso, há também subgêneros, dependendo da faixa etária do aluno. O aluno adolescente terá melhor desempenho se a aula trouxer variedade temática. O aluno mais velho provavelmente espera (e cobra) focalização concentrada no assunto previsto, informação madura, objetividade máxima.
O professor no ambiente da internet, em chats, por e-mails, usando a webcam e outros recursos, terá de sintonizar-se com a linguagem da Idade Mídia, teclar com rapidez, plugar-se a qualquer hora do dia ou da noite.
Mesa-redonda também ensina. Mas tem de haver divergências, bate-papo animado e bate-boca. O público necessita ver um certo atrito entre os participantes, ou então o debate se transforma em reunião de comadres, muitas sedas rasgadas, perda de tempo. É redonda essa mesa porque “rolam” opiniões provocadoras.
Oficina, etimologicamente, é opus facere, ou seja, ocasião para fazer uma obra, fazer algo em grupo. O professor trabalha menos para que o trabalho seja melhor. Aprende-se à medida que todos se empenham.
Aulas convencionais não podem ser convencionais. Queixam-se muitos professores da falta de disciplina de suas turmas, da falta de respeito, da baixa motivação, da ínfima participação. Acreditam que o desinteresse dos alunos nada tenha a ver com aulas desinteressantes, entediantes. Não acredito em aulas sem condimento artístico. O argumento de autoridade perdeu autoridade. A velha aula era nova em outras eras. Novos tempos, novas aulas.
Aperfeiçoamento docente implica exercitar-se didaticamente. Que nós, professores, descubramos as possibilidades e limitações que cada um desses gêneros oferece.
Texto de Gabriel Perissé (www.perisse.com.br) publicado originalmente na revista Profissão Mestre de novembro de 2008.
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